Revista Biografia

Manuela Soeiro

Maria Manuela de Lobão Soeiro é o seu nome, mas o consagrado escritor moçambicano, Mia Couto, prefere chamá-la de Grande Mãe do teatro moçambicano. Manuela é de lá das terras do Ibo, uma ilha da província de Cabo Delgado. Sentiu o ar da natureza pela primeira vez a 24 de Janeiro de 1945.

Para os conhecedores da história, 1945 é importante para o mundo, pois foi o ano em que terminou a II Guerra Mundial. Em Moçambique, ainda vivia-se um ambiente de colonização. E naquela altura era costume dar-se às crianças os nomes completos dos padrinhos.

Na época colonial, existiu no Ibo um governador português chamado Abílio Lobão Soeiro. A avó de Manuela pediu para ele ser o padrinho de baptismo do seu pai. Foi assim que a família de Manuela adquiriu o nome português.

O seu pai era mestiço, tinha sangue de branco, indiano, e negro. Ele era carpinteiro de profissão. Era também um bom contador de histórias, pretendeu ser padre, mas não foi aceite porque, na altura, ser misturado era pecado. A mãe de Manuela tinha sangue judeu, grego e negro.

Órfã de pai aos cinco anos de idade, Manuela foi estudar para um colégio de órfãos salesianos, em Namaacha, Maputo, porque a mãe não conseguia prover as necessidades dos seis filhos. Era uma escola só para meninas.

No colégio, Manuela contava histórias para as suas colegas. Histórias que metiam medo, tanto medo que as suas colegas ouviam-nas agarradas umas às outras. Outro hábito dela era a leitura. Manuela roubava livros na biblioteca para ler à noite. Quando as freiras descobriram puniram-lhe impedindo-a de ler. Mas a freira brasileira, irmã Alba, ajudandou a menina, passando-lhe livros sem ninguém saber.

O teatro começou a evidenciar-se na vida de Manuela ainda no colégio. A irmã Alba usava o teatro para contar histórias e isso encantava-lhe. A primeira peça em que participou foi “Quo Vadis”, escrita para ser representada por meninas.

Graduada em Educação Física, Manuela começou a trabalhar, formando animadores para agir em grupos. Após a assinatura do Acordo de Lusaka, em 1974, e posterior formação do Governo de Transição, Manuela actuou em grupo de mulheres, usando a dramatização para estimular a reflexão, numa altura em que 98% da população moçambicana não sabia ler, nem escrever. Apesar de muitas das mulheres que participavam nos grupos serem analfabetas, conseguiam improvisar os textos.

Nos primórdios da Independência, Manuela começou a promover saraus esporádicos no então cine-teatro Avenida, prédio dos anos 1960, pertencente à Rádio Moçambique, com 350 lugares. Na ocasião, havia três propostas de ocupação do local: de um grupo de cinema indiano; de uma empreiteira interessada em construir um shopping; e a proposta de Manuela, que era tornar um local para o teatro.

Em 1984, Manuela garantiu a concessão por 50 anos do actual Teatro Avenida, e entrou no imóvel, inundado por goteiras, sem cortinas, fiação danificada. Foram tempos difíceis, em que não havia nem água nem luz.

Ainda no início de Moçambique Independente, o Governo dirigido por Samora Machel estabeleceu Grupos Polivalentes para levar a cidadania, saúde e educação à população. Manuela era professora de educação física, mas tinha o teatro como hobby e assim começou a chamar actores para fazerem parte dos Grupos Polivalentes. Naquela altura, o teatro não era feito de forma contínua e ela tinha o sonho de profissionalizar aquela arte.

A 6 de Novembro de 1986, o sonho de Manuela Soeiro tornou-se real. Ela fundou o primeiro grupo profissional de teatro em Moçambique, o Mutumbela Gogo (que em português significa mascarado).

Bibliografia

Acalmar as almas. Manuela SoeiroAcesso em: 10/01/2017.

O GLOBO. A trajectória de sucesso de Manuela Soeiro, empreendedora do teatro moçambicanoAcesso em: 10/01/2017.

SAPONOTÍCIAS. Conta-me a tua infância: Manuela Soeiro, tem 64 anos e é directora do grupo de teatro Mutumbela Gogo. Acesso em: 10/01/2017.

Notícias. FESTILIP homenageia hoje a Manuela SoeiroAcesso em: 10/01/2017.

A VERDADE. MANUELA SOEIRO: “Foi muito mais fácil combater através de armas do que pela arte!”Acesso em: 10/01/2017.

Jornal Domingo. Mutumbela Gogo celebra hoje 30.º aniversárioAcesso em: 10/01/2017.

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É jornalista e webdesigner desde Setembro de 2013. Na sua caminhada jornalística, está registada sua passagem pelo jornal O Nacional; Revista ÍDOLO, onde chegou a desempenhar as funções de editor executivo; para além de ter sido oficial de marketing digital na Ariella Boats. Foi, também, jornalista correspondente da Revista MACAU, em Moçambique. Actualmente é jornalista do jornal Notícias. É, desde 2020, licenciado em jornalismo, pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Sua caminhada no mundo do empreendedorismo digital iniciou com o lançamento da plataforma Biografia, em 2016. É também, o fundador do site evangelístico Chave de Davi, em 2018; e da loja online O Ardina Digital. Todos projectos foram concebidos ao lado do seu amigo Deanof Potompuanha.

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