Revista Biografia

Nathaly Noor

O som oriental (árabe) é para ela como o ar condicionado em épocas de altas temperaturas, aquecedor em tempos de temperaturas negativas. A timidez e a vergonha evaporam quando a batida árabe chega ao seu ouvido, a vontade que lhe sobe a cabeça é dançar, oscilando de forma harmoniosa e acentuada o seu corpo.

Natália Celestina Salvador Mathe é nome dela. Ela nasceu em Maputo a 25 de Dezembro de 1991, crescendo no Bairro da Coop. Quando pequenina gostava de vestir-se como árabe por influência das amiguinhas do seu prédio, que tinham raízes árabes. Chegou inclusive a atribuir-se o nome Yumina para ser familiarizar com os das suas vizinhas.

Ao crescer um pouco, a partir dos 11 anos de idade, juntou-se mais aos seus amigos: Nelito e Uzeir. Com eles, as brincadeiras resumiam-se a corridas, passeios de bicicletas, moto, jogar futebol no pátio do prédio, e “zhoto”.

Na verdade, Natália era uma “maria-rapaz”, não gostava de bonecas e brincadeiras consideradas de meninas. Era rebelde. Sendo ela a mais nova de sete irmãos, chegou a lutar com três das suas irmãs, mas quando ela comportava-se desse modo a mãe batia-lhe.

O comportamento rebelde agudizou-se quando ingressou para Escola Primária da SOS e acalmou aquando da sua entrada ao Instituto Nília, onde concluiu o ensino básico.

Influenciada pelo seu jeito de “maria-rapaz”, sempre foi amiga do pai, Salvador Mathe, ex-jogador de futsal e de futebol 11. Mathe levava a filha para ir assistir aos seus jogos de futsal. Isso acabou por despertar a paixão pelo futebol nela.

Quando ela estava a frequentar o ensino secundário, representou a Escola Secundária da Polana nos Jogos Desportivos Escolares. Participou em quatros jogos. E um dia ela visitou o campo de futsal da então Liga Muçulmana (actual Liga Desportiva de Maputo), o pavilhão situado na Mesquita Masjid Taqwa, e tinha vestido o equipamento dos jogos escolares.

mister Nino convidou-a a fazer parte da sua equipa de futsal, denominado Nino Power. Natália aceitou e começou a treinar. Nos primeiros dias andava no seu canto, mas quando soube que na equipa tinha uma prima, acabou se soltando.

Ela não tinha muito domínio numa primeira fase, por isso era suplente. Geralmente entrava para jogar na segunda parte, quando a equipa estivesse a ganhar por 10 – 0, por exemplo. Mas depois, em 2007, ela e boa parte das suas colegas de equipa (cerca de seis) mudaram-se para a então Liga Muçulmana.

A experiência dela no mundo da bola de salão começou a ter expressão. Jogando pela Liga, ganhou inclusive uma competição, o Campeonato da Cidade de Maputo. O jogo decisivo para o título deu-se diante da então poderosa equipa do Paradise.

Aquele foi o primeiro jogo que a sua mãe foi assistir juntamente com a família. Acabou por ser o jogo mais marcante da sua carreira, porque quando o jogo estava empatado a uma bola, Natália marcou o golo que fez a Liga celebrar o título.

Num tom de brincadeira chegaram, inclusive, a chamar a sua mãe de feiticeira, porque em todos jogos que opunha a Liga e o Paradise, Natália nunca havia marcado golo!

Natália na dança do ventre

Quando o professor Roberval, ido do Brasil, assumiu o comando técnico feminino e masculino de futsal na Liga, havia uma preparadora física naquele clube, chamada Renata. Ela era professora de dança do ventre e ninguém sabia.

Na festa do clube, realizada em Novembro de 2009, conhecida como a primeira festa após a chegada dos brasileiros. O DJ, no meio da festa, tocou uma música árabe. Natália e outros atletas do clube puseram-se a dançar. A preparadora física perguntou se ela não queria fazer parte da escola (dela) de dança do ventre e que iria ter aulas como bolsista. Natália aceitou na hora. Para além dos estudos e o futsal, Natália passou a dedicar-se à dança do ventre.

Em sua casa, olharam como mais uma actividade. A rotina de Natália começou a ficar mais carregada de actividades. Ela treinava à noite. O seu treino de futsal terminava às 19:00 horas e tinha de sair a correr do pavilhão do Masjid Taqwa até Colégio Verney, onde devia estar às 19:30 horas, para mais uma actividade que exigia exercício corporal.

Entretanto, no seu primeiro dia de aulas, ela foi acompanhada de carro por um amigo. Foi um dia em que Natália passou vergonha na aula. Ela foi à aula de um top e de uma saia. Esse é o traje para o espectáculo, mas na aula não se pode vestir saia, mas sim legs para permitir que a professora possa ver se a técnica do movimento das pernas é feita devidamente. Contudo, participou da aula.

Naquele dia, ela aprendeu o básico egípcio e a batida lateral. Assim iniciou a sua história como Nathaly Noor, seu nome artístico. Nos dias subsequentes, ela evoluiu na dança oriental árabe (dança do ventre) e em Agosto de 2010 participou da “1.ª Noite de Danças Árabes em Maputo”, no Cinema Scala, um evento organizado pela professora Renata.

Muita gente aderiu ao evento e a família de Natália esteve em peso. Aquela noite teve uma assistente de luxo, a bailarina Roberta, irmã de Renata e professora internacional da dança do ventre, que na altura residia na Itália. Nathaly apresentou três coreografias e, no fim daquele espectáculo, a bailarina Roberta foi ter com ela e encorajou-a a não desistir e que ela tinha um belo futuro pela frente como bailarina da dança oriental árabe.

A escola de Renata tinha 12 alunas. Quando a professora ficou grávida, colocou Nathaly como professora assistente. Em 2012, Nathaly foi seleccionada para participar do Festival Internacional de Dança do Ventre, na Itália. Foi uma notícia que deixou-lhe totalmente alegre. E ainda naquele ano, optou por dar por terminada a sua carreira como jogadora federada de futsal e dedicar-se à dança.

5.ª edição do YALLAH AFRICA

No festival da Itália, havia bailarinas de diversos países, desde Espanha, Itália, Marrocos, Brasil, Egipto, entre outros. Para além do espectáculo em si, o festival tinha um concurso, e Nathaly Noor foi a vencedora da competição no Festival Internacional da Dança, em 2012.

Ao regressar da Itália, passou de assistente para professora na escola de Renata. Depois da performance na Europa, tornou-se uma frequente convidada para festivais internacionais e diversos tipos de eventos de dança do ventre em países como México, Brasil, Bulgária, Espanha, Egipto, Itália, Marrocos e outras nações. Além de participar dos espectáculos, aproveitava para fazer cursos de aperfeiçoamento naqueles países.

Em 2014, Nathaly deu um salto, organizando o primeiro Festival Internacional de Dança do Ventre em Maputo, denominado “YALLAH AFRICA”, um evento que contou com a participação de várias artistas internacionais provenientes do Brasil, Espanha e alguns grupos nacionais. O feedback foi surpreendente, pois o público aderiu massivamente ao festival.

Nathaly iniciou, também, a sua escola de dança do ventre. Começou com força, pois, ainda na fase inicial, já contava com 25 alunas, a mais nova tinha seis anos de idade e a mais velha 61. As alunas estavam divididas em três grupos. Algumas eram orientadas através de aulas particulares. A escola evoluiu depois para Academia de Dança do Ventre Ya Noor.

Daí em diante, Nathaly Noor cresceu ao nível interno e internacional na área da dança oriental árabe. Para se ter uma noção, entre Julho e Outubro de 2015, Nathaly teve agendas internacionais para Barcelona, na Espanha (9th Internacional Oriental Dance Festival Egipto); Egipto (no evento “Raqs of Course”); cidade de Serres, na Grécia (“Cairo by Night Festival”); cidade de Sofia, Bulgária (“Orient El Hob”).

O festival criado por ela em 2014, o “YALLAH AFRICA”, tornou-se uma tradição do fim de ano em Maputo (a 5.ª edição realizou-se entre 6 e 8 de Dezembro de 2019), e é o maior espectáculo internacional de dança que acontece em Moçambique.

YALLAH AFRICA comporta o evento de abertura, concurso, workshops sobre dança do ventre, e gala, onde brilham altas estrelas nacionais e mundiais, como Munique Neith (Espanha), Bruno Habib (Brasil), Artem Uzunov (Rússia), Filipa Nawaar (Portugal), Cristina Sales (Moçambique), Nélia Flora (Moçambique), grupo Infinitive (Moçambique), Noor Dance (Moçambique), Sonya Kamel (Marrocos), Yana Gilm (Rússia), e outras.

Vida conjugal

Nathaly Noor é, desde 2018, casada com Liberty Ndadzungira, jogador de futebol do Ferroviário de Maputo. Eles conheceram-se em 2012, quando Liberty ainda representava o Maxaquene.

About Author /

Biografia é a primeira revista online, baseada em Moçambique, dedicada na produção e disponibilização de histórias de vida e obra na internet. Fazemos este trabalho desde 2016, e nos primeiros cinco anos alcançamos mais de 3 milhões e meio de acesso, atingindo internautas situados em mais de 2 500 cidades no mundo. Somos a principal referência dos que buscam biografias de moçambicanos na internet, sendo as nossas publicações citadas em inúmeros órgãos de comunicação e websites de vários cantos do mundo.

Leave a Comment

Your email address will not be published.

Start typing and press Enter to search