Revista Biografia

Curtas notas biográficas de Chico António

Distrito de Magude. Primeira metade da década de 1960. Um menino de seis anos era diariamente sacudido para tomar conta de 50 suínos, 30 cabritos, e 10 ovelhas.

Não era um caso isolado de infância roubada. Ele viu uma forma de livrar-se daquilo: fugir para a grande cidade de Lourenço Marques. Quando chegou à urbe, tornou-se menino de rua, e passou a depender de esmola.

Chico António, nascido em 1958, escapou a possibilidade de ser um vagabundo em 1964, ao ser adoptado pelo casal José Ferreira dos Santos e Lili Ferreira. Naquele ano, os seus pais adoptivos conseguiram uma vaga no internato Missão São João de Lhanguene, da Igreja Católica, onde fez o ensino primário e a sua iniciação musical.

Aos nove anos de idade, tornou-se solista num coro de 50 pessoas, aprendeu trompete e solfejo. Inspirado nas suas referências (Xidiminguana; Wazimbo; Osibisa; The Police; e outros), no final da década de 1970, Chico seguiu como profissional de música, trabalhando em conjuntos como ABC-78; Grupo Instrumental N.º 1 de música ligeira; RM; e Orquestra Star de Moçambique, e em países como Cabo-Verde; Guiné Conacri; Zimbabwe; Dinamarca; França; Holanda; Inglaterra; Itália; Portugal; Suécia; e Noruega.

O Grupo RM foi importante na sua projecção nacional e internacional. Naquele conjunto, trabalhou com alguns dos melhores artistas do país, entre eles: Alexandre Langa, Sox, Alípio Cruz (Otis), Zé Mucavel, Zé Guimarães e Mingas.

Como integrante do Grupo RM, criou o tema “Baila Maria”, interpretado em dueto com Mingas. Em 1990, “Baila Maria” conquistou o grande prémio do concurso Descobertas, da Rádio França Internacional (RFI). No mesmo ano, e em consequência do prémio, Chico foi para capital francesa (Paris), estudar música.

Foram dois anos de formação intensiva. Teve aulas de técnicas de base de piano, arranjos musicais e gravação musical. O seu tutor foi o camaronês Manu Dibango. Em França, conviveu com personalidades como Salif Keita, e Pierre Bianchi.

Foi Manu Dibango quem, durante a formação, lhe aconselhou a concluir os estudos e a regressar para Moçambique, para pesquisar e elevar os ritmos tradicionais do seu país.

Quando regressou para a Pérola do Índico, Chico passou a apostar na pesquisa de música tradicional e posterior fusão. Foi na senda disso que nasceu a Amoya Studio and Art Gallery (ASAGA) e surgiram oportunidades de colaboração musical em produção audiovisual e teatrais.

Além da bolsa atribuída ao compositor, o Grupo RM teve o direito de gravar um disco. Para o efeito, o conjunto foi rebaptizado com o nome “Amoya” e gravou o disco “Cineta”, que fora lançado em 1991, em Paris.

Chico prefere trabalhar detrás de artistas, que ser famoso. Foi essa razão que fez com que, só em 2014, Chico lançasse o seu próprio disco. O cd “Memórias” foi resultado de uma pressão social. Através da obra, Chico viveu na pele o quanto custa lançar um disco em Moçambique, pois depois de trabalho árduo, muito dinheiro investido, teve pouco retorno. Contudo, ficou feliz por ter empregue amigos e ter conseguido pagá-los.

Bibliografia

“Da rua ao palco do mundo”. Índico [cidade de Maputo] Janeiro/Fevereiro de 2015: pág. 74-78. Impresso.

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