Revista Biografia

Nos tempos da vovó Stela

Sentada estava Stela Joana, idosa dos seus 72 anos de idade. Estava num vaso de betão do edifício dos Correios de Moçambique, na Matola. Ali aguardava pela sua vez na fila para ser atendida. Então cheguei bem próximo dela, saudei-lhe, apresentei-me, e falei que queria saber como era celebrado o Dia dos Namorados (14 de Fevereiro) nos tempos dela.

Ainda sentada olhou para mim, eu em pé, diante dela. Depois inclinou a cabeça a olhar ainda para cima. Fez um sorriso e olhou para os lados, viu um outro idoso e chamou-lhe para que lhe servisse de testemunha e ajudasse em caso de lapso de memória. Ainda com um sorriso no rosto disse-me:

– Nos meus tempos namorávamos, mas isso de dias dos namorados não fazíamos. Veio depois da independência. Os dias que mexiam connosco, nos meus tempos filho, eram o Dia de Mãe e o Dia do Pai.

A vovó Stela, com a mão direita, ajeitou a bengala e começou a contar a história do seu tempo. Era princípio de tarde, mas o seu estilo de narrar parecia os contos da fogueira nocturnos do campo. E o outro idoso em pé ao lado acompanhava, acrescentando e sustentado.

~*~

Os nossos professores brancos sempre lembravam aos alunos quando estivéssemos próximos do Dia de Mãe. Vem aí o Dia da Mãe! Vem aí o Dia de Mãe! Preparem-se meninos, vem aí o Dia da Mãe!

Naquele tempo as coisas eram baratas. Como não trabalhávamos, falávamos com as nossas mães, pedindo que nos dessem dinheiro. Não dizíamos para que finalidade, só pedíamos. Quando negassem, suplicávamos até que nos dessem. Como não era muito dinheiro acabavam por nos dar.

Estás a ver a agitação do dia 24 de Dezembro dos dias de hoje? Yaaaaaa! Havia uma casa em Lourenço Marques (cidade de Maputo), ali na zona da Versalhes, no Alto Maé. Chamava-se Casa Fabião. Aquilo enchia. Formávamos uma fila enorme para comprar presente para as nossas mães.

Vendiam muita coisa naquela casa. Escolhíamos o presente que quiséssemos oferecer. Comprávamos a coisa mais bonita para o nosso coração. Aquilo que sabíamos que alegraria as nossas mães. Depois embrulhávamos e íamos a correr para casa e escondíamos, para que a surpresa fosse boa.

A surpresa era sempre feita no Dia de Mãe. Colocávamos o presente embrulhado em cima da mesa. Até antes de abrirem, as nossas mães ficavam cheias de encanto e davam-nos abraços e beijinhos na bochecha. Aquilo era uma alegria que enchia os nossos peitos.

Naquele dia, cada criança, na sua casa, procurava encher a sua mãe de alegria. Tínhamos orgulho em ver as nossas mães alegres por perceberem que a filha ou o filho tinha se lembrado dela.

Não havia isso de andar aí a oferecer mães dos outros não sei o quê. Cada um com a sua mãe. Era um momento único no ano. As nossas mães ficavam tão maravilhadas que naquele dia o jantar era a comida da nossa preferência.

No dia seguinte eram só comentários. As mães conversavam entre elas, contando uma às outras o que as suas filhas lhes tinham oferecido. E, entre nós, também comentávamos na escola, na rua e no bairro. Era bonito!

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É jornalista e webdesigner desde Setembro de 2013. Na sua caminhada jornalística, está registada sua passagem pelo jornal O Nacional; Revista ÍDOLO, onde chegou a desempenhar as funções de editor executivo; para além de ter sido oficial de marketing digital na Ariella Boats. Foi, também, jornalista correspondente da Revista MACAU, em Moçambique. Actualmente é jornalista do jornal Notícias. É, desde 2020, licenciado em jornalismo, pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Sua caminhada no mundo do empreendedorismo digital iniciou com o lançamento da plataforma Biografia, em 2016. É também, o fundador do site evangelístico Chave de Davi, em 2018; e da loja online O Ardina Digital. Todos projectos foram concebidos ao lado do seu amigo Deanof Potompuanha.

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