Revista Biografia

Curtas notas biográficas de Glória Muianga

Glória Américo Fungate Muianga nasceu na cidade de Maputo, a 1 de Fevereiro de 1951. Aos seis anos de idade tornou-se órfã de mãe, numa altura em que a sua irmã mais nova, entre cinco, tinha alguns dias de vida.

O seu pai, que era electricista de uma unidade sanitária, teve de educar as cinco meninas, menores de idade. Para tal, contou com ajuda de algumas freiras da enfermaria na qual trabalhava e familiares que cuidaram da mais nova. As mais velhas foram inscritas num colégio destinado a pessoas desfavorecidas.

Naquele colégio, o tratamento não era dos melhores, o que fez com que sua avó as retirasse. O seu pai conseguiu, mais tarde, vagas na Casa de Educação da Munhuana. A instituição só admitia crianças com uma certa idade. Isso obrigou as meninas a esperarem pela irmã mais nova adquirir alguns “anintos”. E depois foram todas para o centro.

Foi naquela Casa, que albergava crianças de todas as raças e estratos sociais, onde Glória Muianga teve a sua instrução. Na Munhuana, aprendeu algumas tarefas domésticas e actividades como teatro, canto e a tocar alguns instrumentos musicais.

“Passámos mal, isoladas e longe da família. Mas isso ajudou-me. Hoje sou a pessoa que sou e sei fazer um pouco de tudo. Quase todas as minhas ex-colegas do colégio são pessoas com uma postura batalhadora e abertas a aprender, graças à educação que recebemos”.

Glória trabalhou como administrativa, foi aspirante na função pública e, mais tarde, foi funcionária numa biblioteca na Universidade de Lourenço Marques (actual Universidade Eduardo Mondlane). Com o golpe de Estado em Portugal, a 25 de Abril de 1974, tornou-se possível mudar de emprego e Glória por acaso foi parar na Rádio Moçambique (RM), muito longe de pensar que tinha jeito para ser locutora.

Na RM, por causa dos turnos, viu-se obrigada a interromper os seus estudos e começou a dedicar-se apenas ao trabalho, numa época em que se vivia a euforia da Independência e uma nova experiência. “Deixámos os estudos e dedicámo-nos à revolução e à própria rádio”.

Vinte anos depois, voltou para a escola por via do Instituto Comercial, onde se formou em Contabilidade. Mas não chegou a abraçar aquele ramo. Recebeu alguns convites, mas preferiu ficar na rádio por ser a profissão que melhor sabe fazer.

A primeira vez

Chegou à RM como administrativa, numa altura em que se exigia muito dos jovens, uma vez que grande parte dos profissionais havia deixado o país e era necessário preencher as vagas existentes.

Nos primeiros dias mandaram-lhe escrever um texto sobre a Independência de Moçambique. Escreveu tudo que sabia. Disseram-lhe para ir ao estúdio ler o que havia escrito. Apesar de, na altura, não achar a sua voz adequada, meteu-se no estúdio e fez a prova. Quando saiu da cabina sentiu uma boa sensação do teste e decidiu que queria ser locutora para o resto da vida.

Passados alguns dias, saíram os resultados e ela tinha sido aprovada para estagiar. O tempo de aprendizagem era muito longo, porque tinha de se seguir os passos dos mais velhos nos primeiros seis meses, só depois é que se faziam as gravações no estúdio.

Glória passava praticamente os dias na rádio, não tinha horas para entrar e muito menos para sair. Mas pouco importava, ela tinha sede de aprender.

Depois, destacou-se com o programa radiofónico “Uma Data na História”, que contava história sobre os países e acontecimentos no mundo. Os assuntos pouco diziam respeito à Moçambique, porque o país acabava de se tornar independente e a informação era escassa. Apesar das dificuldades, trabalhavam com as informações de que dispunham e, paulatinamente, foram fazendo um acervo com informação e música sobre a realidade moçambicana.

Nas datas mais importantes do país, a RM tinha de estar na vanguarda. E, consequentemente, ela também. Era sempre a “vítima”: “Glória vai para ali e acolá”. Foi, também, destacada para apresentar sessões de gala quando havia visita presidencial. Foi uma actividade que teve de aprender praticando, e com ajuda de ministros, porque não havia escolas para ensinar a apresentar, e o Presidente Samora Machel era muito exigente.

Mãe de dois filhos (agora casados), um dos quais o ex-futebolista internacional e da Selecção Nacional, Mano-Mano. A locutora tem uma carreira que se confunde com os anos da Independência de Moçambique e é conhecida como a mulher de voz bela e melodiosa. A sua voz é das mais reconhecidas no país. Quem vive em Moçambique convive com ela todos os dias, afinal de contas quem durante uma chamada telefónica nunca ouviu frases como: “neste momento, não é possível estabelecer a ligação que deseja”; ou “o seu crédito é insuficiente para realizar a chamada. Por favor, recarregue o seu cartão”.

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É jornalista e webdesigner desde Setembro de 2013. Na sua caminhada jornalística, está registada sua passagem pelo jornal O Nacional; Revista ÍDOLO, onde chegou a desempenhar as funções de editor executivo; para além de ter sido oficial de marketing digital na Ariella Boats. Foi, também, jornalista correspondente da Revista MACAU, em Moçambique. Actualmente é jornalista do jornal Notícias. É, desde 2020, licenciado em jornalismo, pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Sua caminhada no mundo do empreendedorismo digital iniciou com o lançamento da plataforma Biografia, em 2016. É também, o fundador do site evangelístico Chave de Davi, em 2018; e da loja online O Ardina Digital. Todos projectos foram concebidos ao lado do seu amigo Deanof Potompuanha.

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