Aires Ali
Aires Bonifácio Baptista Ali nasceu nas terras de Nbeba, em Unango, no dia 6 de Dezembro de 1955. Estamos a falar de terras situadas no distrito de Sanga, na província do Niassa, na região norte de Moçambique. Entretanto, passou os seus primeiros anos de vida em Lichinga, capital daquela província, até à fase da adolescência, altura em que a sua família mudou-se para a então Cidade de Lourenço Marques (actual cidade de Maputo).
Foi dos poucos naturais de Niassa privilegiados, porque desde muito cedo começou a viajar para fora da província devido aos afazeres profissionais do seu pai. Quando nasceu, o pai estava a passar por uma mudança de profissão de professor primário para enfermeiro. Isso exigiu-lhe mudanças de local. Teve de sair da província do Niassa para Lourenço Marques.
Falar de 1955 é contar sobre um período em que Moçambique era um colónia portuguesa e ainda não havia iniciado a Luta Armada de Libertação Nacional. A Guerra da Independência de Moçambique iniciou em 1964 e terminou em Setembro de 1974, através da Assinatura dos Acordos de Lusaka.
Continuando, depois que o pai terminou o curso, levou a família para Lourenço Marques. Aires mudou-se com os seus pais, terminando a quarta classe na capital da colónia portuguesa (na época, o ensino básico terminava na 4.ª classe).
O pequeno Aires teve, assim, a sua infância dividida. Mas a infância propriamente dita passou em Unango e em Lichinga. A adolescência e juventude passou na actual cidade de Maputo. Saiu de Niassa com os seus 12 ou 13 anos, mas sempre manteve a ligação com a província. Os seus pais sempre criaram oportunidade para que ele fosse visitar os avós.
Quanto às brincadeiras de infância, a primeira fase foi uma vida basicamente rural. Os seus brinquedos eram feitos de material local, como cascas de bananeira, de alguns troncos de plantas e frutas que eram encontradas nas matas vizinhas, nas florestas. Aprendeu a ir à caça de passarinhos. Brincou muito com a fisga. Teve ainda a oportunidade de brincar com o pião, objecto de cone que batia para girar; jogou berlinde; também jogou futebol, começando em Unango, com a bola de trapo e, depois, na cidade, encontrou outro tipo de bola (convencional).
Aos sete anos, em Niassa, iniciou a sua carreira estudantil, mas terminou o ensino em Lourenço Marques, na então Escola Comandante João Belo (actual Escola 7 de Setembro). Depois passou pelo chamado, na altura, ciclo preparatório. Mais tarde ingressou no Liceu António Enes. Na altura foi estudante desde o primeiro até ao sétimo ano do Liceu.
Ele era um aluno de nível médio. Havia disciplinas que tirava notas muito boas e outras que obtinha notas médias. Teve apenas o segundo ano do Liceu que foi mau. Reprovou porque houve mudança de currículo e teve dificuldades para se adaptar, mas nos anos seguintes teve boas notas.
Quando concluiu o Liceu com sucesso percebeu que precisava de trabalhar para apoiar a família. Conseguiu o seu primeiro emprego no Banco Nacional Ultramarino, actual Banco de Moçambique (BM), onde trabalhou durante um ano.
Meses após ser proclamada a Independência Nacional de Moçambique, quase nos finais de 1975, foi convidado pelo partido Frelimo para dar aulas em Namaacha, província de Maputo, na Escola Secundária da Frelimo.
Trata-se de uma das 13 escolas construídas na altura, com vista a garantir o enquadramento dos jovens que vinham dos centros pilotos das zonas libertadas durante a Luta Armanda de Libertação Nacional. Portanto, teve de interromper a sua carreira como bancário para ser professor.
Os sonhos de muitos jovens naquela altura estavam associados à libertação da pátria. E quando o feito foi alcançado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), os jovens envolveram-se na missão de construção de Moçambique Independente. Muitos dos que tinham alguma formação eram enquadrados para dar o seu contributo nesse sentido. Aires Ali, por exemplo, pretendia ingressar na faculdade, mas foi-lhe dito que aquilo não era prioridade. Tendo concluído o sétimo ano do Liceu o necessário era dar aulas.
Foi no âmbito daquele desejo e atmosfera de contribuir na construção do Moçambique Independente que Aires interrompeu a carreira de bancário e intenção de continuar a estudar para leccionar. A interrupção dos estudos era necessária. Ele pertence ao grupo que surgiu um pouco antes da existência da Geração 8 de Março. Tinham de dar o contributo na reconstrução do país, não existiam outras pessoas para fazer aquilo.
Aires Ali deu aulas de português e história. Mas como o país acabava de conquistar a Independência, as necessidades eram várias. Por causa da falta de professores, até aulas de educação física leccionou. Sempre gostou e praticou desporto. E mais tarde ensinou biologia.
Foi professor até finais de 1977, altura em que passou para director da Escola Francisco Manyanga. Aliás, foi nomeado director do Liceu António Enes, porque a atribuição do nome de Francisco Manyanga foi um processo liderado por Aires Ali, na altura em que era director. Dirigir aquela escola foi dos momentos mais alegres da sua vida. Recorda-se com entusiasmo a altura em que procuraram a fotografia de Francisco Manyanga, que se encontra afixada na escola. Foi um grande movimento.
Aliás, 1977 foi um grande ano para Aires Ali. Ele casou-se no princípio do ano com Joana Maurício Ali, e no final do ano teve a sua primeira filha; depois dela vieram mais três rapazes.
Em 1978, foi nomeado director provincial da Educação e Cultura da província de Maputo. Na altura não havia separação da cidade e província. Ficou dois anos em Maputo, depois foi nomeado para o mesmo cargo na província de Nampula, onde ficou por sete anos.
Aires Ali decidiu retornar aos seus estudos em 1986. Ingressou na Universidade Pedagógica (UP). Em 1991 concluiu com sucesso o curso de Licenciatura em Psicopedagogia. A área de formação escolhida não estava nos seus planos, mas era um dos três cursos que havia quando a UP foi aberta.
Carreira política
Após concluir o curso de Licenciatura em Psicopedagogia, já fazia parte dos quadros do Ministério da Educação e Cultura, e o partido Frelimo foi acompanhando a sua trajectória, porque era muito activo. Nas primeiras eleições gerais realizadas em 1994, foi convidado a participar na campanha eleitoral. E fora destacado membro da brigada do Niassa. Fez o seu primeiro discurso político em Marrangira, no distrito de Marrupa.
Foi como membro da brigada do Niassa, mas ao nível da província quando dividiram o grupo, foi-lhe atribuída a responsabilidade de chefiar a brigada que foi a Marrupa.
Aires Ali já tinha experiência de discursar para colegas, mas aquele momento foi diferente. Estava a falar para um auditório muito vasto e tinha de transmitir a mensagem do programa do partido para população. Aquele comício foi praticamente o seu baptismo na política.
Depois foi eleito deputado do círculo eleitoral do Niassa. Esteve na primeira secção multipartidária da Assembleia da República. Mas depois de alguns meses o então Presidente da República, Joaquim Chissano, convidou Aires Ali para ser Governador da província de Niassa. Foi exonerado em 1999, mas uma hora depois foi nomeado Governador da província de Inhambane. Exerceu aquela função de 2000 a 2004. No ano seguinte foi nomeado Ministro da Educação e, mais tarde (em 2010), Primeiro-Ministro.
Quando foi nomeado, as duas províncias que governou estavam na cauda em termos de indicadores de desenvolvimento.
Sob autorização do Presidente Chissano, Aires Ali liderou o lançamento do Niassa 2000. Aquela província tornou-se, assim, a primeira a levar a cabo uma conferência de atracção de investimentos. No princípio Chissano receou porque não era da competência dos governos provinciais organizarem aquele tipo de eventos, mas depois orientou Aires Ali a fazer juntamente com o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Em Inhambane, Aires Ali liderou a organização de festivais. Inhambane foi a primeira a organizar festivais com a realização do Festival do Tofo, que era para atrair turistas para aquela província.
Como Ministro da Educação e Cultura, Aires Ali liderou o movimento de construção de escolas. Foi uma acção que estabeleceu escolas em lugares conhecidos como dos mais recônditos de Moçambique, como Macalodje (Niassa), Chizolomondo (Tete), Sussundenga (Manica), entre outros.
Como Primeiro-Ministro, Aires Ali liderou a campanha de conquista de parceiros internacionais na Ásia. Moçambique estava a atravessar um momento muito difícil e alguns parceiros ameaçavam cortar ajudas. Havia necessidade de encontrar novos parceiros. Sob orientação do então Chefe do Estado, Armando Guebuza, realizou-se o movimento de busca de parceiros na Ásia. Os chineses têm dito que Aires Ali foi o único Primeiro-Ministro no mundo que visitou China três vezes em um ano.
Em Moçambique, o Primeiro-Ministro desempenha, na prática, o papel de assistente e colaborador mais directo do Presidente da República. Tem a missão de coordenar o Conselho de Ministros e tem que ter habilidade e capacidade de criar um bom ambiente entre os seus colegas e subordinados, e fazer a ponte com o Chefe do Estado. É, ainda, a cara do Governo na Assembleia da República. É uma figura de confiança do Presidente da República.
A jornada de Aires Ali como Primeiro-Ministro terminou nos finais de 2012, quase no fim do mandato. Ele foi exonerado e decidiu voltar à Assembleia da República para cumprir o seu mandato como deputado.
Aires Ali começou a sua vida política como deputado. Em todas legislaturas foi eleito deputado, mas nunca tinha tido a oportunidade de conhecer por dentro a vida da Assembleia. Na altura que foi exonerado faltavam dois anos para o fim da legislatura, por isso pediu voltar e foi aceite.
O debate sobre a sucessão do então Presidente da República, Armando Guebuza, estava no auge. E Aires Ali era um dos nomes que soava como mais provável. Quando o partido Frelimo realizou as eleições internas para escolher o candidato às Presidenciais-2014, Aires Ali entrou na corrida, mas não reuniu votos suficientes (o processo foi vencido por Filipe Nyusi). Apesar de ter perdido ao nível do partido, Aires Ali apoiou a candidatura de Nyusi.
Ali apoiou Nyusi por acreditar que a sua responsabilidade e o seu papel, em função daquilo que tem feito pelo país, é continuar a suportar e orientar os moçambicanos para melhor caminho no futuro. Aires Ali está determinado a contribuir para o desenvolvimento do país e do seu partido (Frelimo) até onde as suas forças permitirem. Durante o primeiro mandato presidencial de Nyusi, Aires Ali desempenhou as funções de Embaixador de Moçambique na China, entre 2016 e 2019. Actualmente, Aires Ali exerce funções de deputado na Assembleia da República e em Junho de 2022 foi eleito por aclamação, vice-presidente do grupo parlamentar da SADC, papel com duração de três anos.