Emblemática Casa de Ferro
Tinha um bigode que cobria parte dos seus lábios. Rafael Jácome Lopes de Andrade era o seu nome completo, mas foi mais conhecido por Rafael Lopes de Andrade. Depois de governar Timor Português, foi nomeado Governador-Geral da Província Ultramarina de Moçambique, em 1891.
Rafael de Andrade decidiu, em 1892, materializar o desejo de viver numa casa que marcasse diferença entre a nobreza e a população. E mandou trazer, através do Gabinete de Gustav Eiffel, uma casa pré-fabricada da Bélgica, para ele.
O imóvel pré-fabricado era feito de chapas, ferro, e madeira. Chegou em Lourenço Marques desmontado e foi montado na Av. 5 de Outubro [Av. Josina Machel]. Na altura era uma zona pantanosa e havia muitos mosquitos. A casa era demasiada quente, problemas que levaram o Governador, Andrade, a arrepender-se e desistir da ideia de morar na Casa de Ferro, antes mesmo de ir viver.
Foi instalado, na Casa de Ferro, o Tribunal Judicial, ainda em 1982. A ideia não foi bem acolhida pelo público e o Município. Considerou-se um atentado à saúde, porque estava praticamente no meio do mato, entre outros motivos alegou-se, ainda, que estava longe da Baixa da cidade de Lourenço Marques, era necessário atravessar o pântano, e as vias de acesso eram estradas acidentadas, o que não favorecia ao poucos que tinham meios de locomoção, pois o transporte na altura era a carroça ou riquexó.
O Tribunal acabou por ser transferido para outro lugar. O Governo colonial doou a Casa de Ferro para o Bispo Dom António Barroso, que nela instalou uma instituição de beneficência e ensino, denominada Instituto Rainha D. Amélia, inaugurado em 1895. Quando foi proclamada a República Portuguesa, 15 anos depois, o instituto foi extinto. A Casa de Ferro foi cedida à Sociedade 1.º de Janeiro, que criou o Instituto João de Deus (IJD).
O IJD utilizou o imóvel para o funcionamento do Liceu 5 de Outubro. Mas em 1912, o Liceu passou para a Av. 24 de Julho, e a Casa de Ferro foi entregue aos Serviços de Agrimensura. Continuou montada até por volta dos anos 1930, altura em que foi desmontada e bem conservada.
A Casa de Ferro reapareceu em 1972, montada em frente do Jardim Botânico, a título de edifício histórico. Moçambique ainda era uma colónia portuguesa. A Luta de Libertação Nacional estava em curso, já lá iam 10 anos, e a 7 de Setembro de 1974, assinou-se o Acordo de Lusaka, que determinou a Independência de Moçambique, formando um governo de transição.
Ainda em Setembro de 1974, a Casa de Ferro foi ocupada pelas Forças populares de Libertação de Moçambique. Tudo porque o imóvel estava num lugar estratégico para controlar a Rádio Moçambique e as movimentações dos portugueses anti-independentistas.
As Forças populares de Libertação de Moçambique, tiveram de ceder o espaço para uma secção de obras e voltaram a reocupar sete anos mais tarde. Em 1985 funcionou no local o Arquivo de Património Cultural (ARPAC), que alterou a sua sede em 1990, e a Direcção Nacional de Património Cultural (DNPC), instituição responsável pela administração dos assuntos da cultura no país. Foi renovada em 2014 com fundos da empresa mineira Vale, trazendo de volta a cor e o brilho que perdera ao longo de anos.
Após a restauração e reinauguração a 30 de Maio de 2016, a Casa de Ferro passou a ter duas funções: Museu, e Direcção Nacional do Património Cultural. E tornou-se um dos destinos atractivos para os turistas e visitantes da cidade de Maputo, idos de países como Índia, África do Sul (a classe nobre), Inglaterra, Estados Unidos da América, China e Japão, não é para menos, a Casa de Ferro é um dos maiores marcos da presença do povo português em Moçambique e da ligação histórica entre os dois países.