Samora Machel substituiu Mouzinho de Albuquerque
“Aqui é Portugal”. Era esta frase escrita de forma visível, que saudava os visitantes da Província Ultramarina de Moçambique, tanto na perspectiva aérea quanto na rodoviária. A frase preenchia por completo o terceiro anel entre as escadas localizadas na entrada da, na altura, Câmara Municipal de Lourenço Marques, nos anos 60.
Aquela frase tinha sido feita através de pedras no pavimento. Eram pequenas pedras de cor preta, e entre as letras estavam as pedras de cor branca. Segundo João Loureiro, autor do livro Memórias de Lourenço Marques, aquele era o local de maior referência da colónia portuguesa. Não era para menos: estava ali o edifício da câmara.
A partir da frontaria do paços estava a Praça Mouzinho de Albuquerque. Em frente a praça estava a Avenida D. Luís. Do lado esquerdo já existia a Catedral Nossa Senhora da Conceição. Não havia Centro Cultural Franco Moçambicano, havia apenas árvores.
No centro da Praça Mouzinho de Albuquerque erguia-se um monumento de 13 metros dedicado ao Governador-Geral da colónia, Joaquim Mouzinho de Albuquerque, baseado no projecto do arquitecto António da Costa e do escultor Simões de Almeida.
A estátua estava rodeada de relva e um pavimento feito de pequenas pedras brancas e pretas. As pretas davam um toque de decoração para quebrar a monotonia do branco com um rectângulo que acompanhava a forma circular do pavimento. Depois a estrada, em forma de rotunda, interrompida em algumas zonas com pequenos pavimentos decorados da mesma forma.
O monumento tinha um pedestal branco em forma de um oval direccionado para a Avenida D. Luís. No topo da base pousava Joaquim Mouzinho de Albuquerque, com o seu chapéu, montando um cavalo. Em frente do pedestal estava uma senhora com uma criança de frente para a Avenida. Nas laterais da base, estavam desenhos de soldados.
Era Dezembro de 1940, quando foi inaugurada aquela estátua. Sete anos depois veio a Câmara Municipal de Lourenço Marques, um edifício revestido a granito em um estilo neo-clássico, com decorações interiores, ostentando uma miniatura dos estilos renascentistas e imperial. Anos passaram. Depois da Luta Armada, veio a Independência.
Na euforia muita coisa mudou naquela praça. A começar pelo nome do local. De Praça Mouzinho de Albuquerque passou para Praça da Independência, por ter sido o local onde se celebrou a Independência. A frase foi apagada através de redistribuição das pedras. A Avenida D.Luís tomou o nome do fundador do Estado moçambicano: Av. Samora Machel. E a estátua do Governador-Geral? Essa foi parar na Fortaleza e o local ficou por décadas sem nenhum monumento, apenas relva.
Em 2011, Moçambique celebrou o ano Samora Machel. Decidiu-se então erguer uma segunda estátua para Machel, sem substituir a que fora colocada em 1989, em frente ao Jardim Tunduro. A nova estátua foi montada exactamente no mesmo local onde estava a de Mouzinho de Albuquerque.
Numa entrevista concedida à Ídolo, em 2016, o Presidente do Conselho Municipal da cidade de Maputo, David Simango, revelou que a remodelação da praça esteve a cargo da edilidade. No dia 12 de Outubro de 2011, foi noticiada a chegada da nova estátua de Machel.
O monumento foi feito de bronze, tinha nove metros de altura e pesava 4,8 toneladas, e foi colocada numa base de betão de 2,7 metros. Na estátua, Samora estava de pé, com a mão esquerda na cintura, e mão direita erguida num ângulo de aproximadamente 90.º, e o dedo indicador da mão em riste.
A estátua, construída na Coreia do Norte, foi inaugurada a 19 de Outubro, aquando da celebração dos 25 anos da tragédia de Nbuzini. Milhares de pessoas estiveram presentes nas cerimónias na Praça da Independência, um evento que foi transmitido pela rádio e televisão.