Revista Biografia

Sérgio Albuquerque

A 30 de Outubro de 1988, Lúcio Albuquerque e Esperança Acácio foram agraciados com avinda do seu primogénito, Sérgio Lúcio Albuquerque. Sérgio nasceu na cidade de Quelimane, província de Zambézia, numa altura em que os seus pais estavam separados. É único filho resultante da relação de seus pais e cresceu no bairro de Samugué, próximo à zona nobre da cidade de Quelimane, onde as casas eram maioritariamente de pau a pique, cobertas de chapas e “matopadas” ao seu redor.

Naquele bairro era possível ver sem esforços a casa do vizinho, já que os terrenos não tinham vedação. A política de educação do bairro abria espaço para que alguém educasse o filho do vizinho como se fosse seu. Havia no bairro uma rua larga onde Sérgio e seus amigos improvisavam balizas para jogos de futebol.

Apesar da separação dos pais, Sérgio tem outros três irmãos, da parte materna: Amede Acácio Retrato; Genésia Maria Retrato; e Deolinda Maria Retrato.

Sérgio viveu em casa da sua avó até os nove anos de idade. Mas não sentiu falta da sua mãe, pois sempre esteve presente de forma destacável em todos os momentos da sua vida, ajudando incondicionalmente de tal forma que hoje é difícil para Sérgio descrevê-la.

Houve momentos, na sua infância, em que as condições da família de Sérgio estiveram debilitadas, e como forma de ajudar ele apostou no comércio. Sérgio começou a vender “coco-norte”.

Sonho de ser jornalista

O amor pelo jornalismo nasceu de pequenas brincadeiras de ser repórter no seu pequeno grupo de infância. Ele decorava algumas publicidades televisivas e depois tentava imitar. Ainda no ensino básico, fez parte dos grupos de jornais de parede nas escolas onde frequentou.

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O Jornalista Sérgio Marcos foi quem fez acender ainda mais seu desejo de ser jornalista, pela sua simplicidade e eloquência. Outro jornalista que lhe influenciou foi Eusébio Casal.

Dentro da sua família o seu tio materno José Acácio Alfredo foi o pilar e exemplo na sua vida. Da convivência que tem com seu tio desde tenra idade guarda memórias que lhe servem de lição para a sua vida.

Um dia um ladrão entrou na casa dos avós, onde ele morava com o tio. O ladrão roubou tudo, inclusive a roupa. Sérgio estava de uma camisa rota, e os calções furados nos joelhos de tanto ajoelhar. Não tinha chinelos nem pasta, pois tinham sido roubados.

O episódio deu-se numa terça-feira e ele tinha de ir à escola. Então disse ao tio: “assim não, eu não vou, não posso ir à escola assim”. O tio reagiu dizendo que iria, nem que fosse à força. Na hora de ir à escola, Sérgio fugiu, porque conhecia a personalidade do tio. José Alfredo procurou-lhe, encontrou-lhe, e arrastou-lhe pelo braço até chegar à escola.

Ao chegar, expôs-lhe no meio da turma e do seu professor, explicando o porquê de não querer ir à escola. Na hora, Sérgio não compreendeu, mas depois, com o tempo e crescimento, percebeu o quão o seu tio valorizava a Educação.

Aos 21 anos de idade, o sonho de ser jornalista ganhou asas. Ele foi admitido para o curso de Licenciatura em Jornalismo na Universidade Eduardo Mondlane, como único candidato da província da Zambézia. Mas mesmo antes de ingressar para a universidade, fez parte de uma estação radiofónica.

Os momentos especiais da sua vida académica não terminam por aí. Sérgio, enquanto estudante universitário, fez parte do grupo dos radialistas que fundaram a primeira Rádio Universitária da UEM. Na mesma época, começou a trabalhar em uma televisão, onde envolveu-se com a parte técnica do jornalismo, uma área que se tornou sua aliada na caminhada da comunicação.

O dinheiro que ganhava como bolseiro, não era suficiente para custear as restantes necessidades de sua vida. Para contornar essa adversidade optou por trabalhar numa pastelaria no período da tarde. De manhã ia às aulas e de tarde ia à pastelaria.

Surgimento da TV Surdo

No âmbito da abertura do programa da IREX, Sérgio concorreu para ser estagiário, mas foi reprovado. Porém, acabou por ser repescado. Ele foi convidado para fazer parte do programa Para Fortalecimento da Midia, implementado em Moçambique pela IREX. E Sérgio foi o primeiro estagiário da IREX a implementar a componente televisiva, uma vez que já tinha tido experiência com o mundo da televisão.

Em 2015, surgiu um grupo de oito pessoas com deficiência auditiva interessadas em criar uma televisão para eles. Acolhida a ideia, foram iniciados os trâmites para implementação do projecto.

Selma Inocência é quem dirigia o programa, mas ela depois abraçou outros projectos e teve de abrir mão do programa. Então Sérgio Albuquerque foi promovido para monitorar o projecto. Desse modo, Albuquerque fez parte do grupo que deu génese a TV Surdo, uma plataforma de televisão que é feita porpessoas com deficiência para pessoas com deficiência.

Lidar com surdos no início foi muito difícil para Sérgio, pois eles não tinham noções práticas sobre informática. Aliado a isso, estava o sistema de educação moçambicano para surdos que não oferece muitas vantagens. Para fazer face à essas barreiras, iniciou um processo de treinamento.

Para além de transmitir conhecimentos de jornalismo para os surdos, Sérgio precisou aprender as formas de lidar com pessoas com deficiência e alguns termos que são usados de forma recorrente, que, porém, não adequados. Ele aprendeu, também, a falar língua de sinais para se comunicar com os jornalistas surdos.

A TV Surdo começou como mais um projecto do Programa Para Fortalecimento da Midia da IREX. Depois passou para Associação TV Surdo. Actualmente, a TV Surdo conta com 16 colaboradores, dos quais sete surdos, um cadeirante, um cego e o pessoal de apoio.

Fé, família e hobbies

Sérgio vive maritalmente com a mãe do seu único filho. É cristão e acredita que desde a sua infância, a sua vida teve intervenção da mão divina. Quanto aos tempos livres prefere ver filmes, bonecos animados na companhia do seu filho. Gosta também de jogar futebol e conversar com os amigos e visitar a literatura.

About Author /

É jornalista e pesquisadora desde 2016. Em 2019 foi graduada pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), e considerada a melhor estudante do curso Licenciatura em Jornalismo. Como jornalista passou pela rádio Voz Coop; Espaços de Inovação da UEM; e Votar Moçambique, como gestora de redes sociais. Fez parte do Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, e do Centro de Estudos Africanos. Conta com um artigo sobre Direitos Humanos publicado internacionalmente e um capítulo de um livro pelo CEC. Entrou para o empreendedorismo em 2020, quando fundou a Mozmusas, um estúdio de tranças.

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