Curtas notas biográficas de Lourenço do Rosário
Lourenço Joaquim da Costa Rosário nasceu em Marromeu, província de Sofala, em 1949, quando Moçambique ainda era uma colónia portuguesa. Lá viveu até aos seis anos de idade. O seu pai era um capataz agrícola, comandava os cortadores de cana-de-açúcar no tempo da colheita ou dirigia a preparação da terra para a plantação.
Quando Lourenço tinha oito anos de idade, o seu pai emigrou para Malawi. Ele foi junto e naquele país prosseguiu os estudos. Mas acabou permanecendo em Malawi por dois anos, pois o seu pai viu que ele não podia continuar a estudar no sistema inglês, e mandou-lhe voltar para Luabo, na Zambézia.
Entre 1970 e 1973, cumpriu o serviço militar sob o regime português. E depois foi para Maputo, onde começou a leccionar na Escola Preparatória do Noroeste. Ele teve a oportunidade de trabalhar num banco e receber 12 mil Escudos, mas preferiu dar aulas por um salário de 10 mil Escudos.
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, que fez cair o regime de Salazar em Portugal, muitos portugueses abandonaram Moçambique, regressando para Portugal, incluindo os professores. Foi naquele contexto que Rosário foi transferido para ser professor na actual Escola Secundária Josina Machel, onde depois da proclamação da Independência foi nomeado presidente do Conselho Directivo da escola, que na altura tinha cerca de seis mil alunos.
Dirigiu a escola entre 1975 e 1977, altura em que foi transferido para Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Era ainda um simples bacharel, isto porque naquela fase o país não tinha quadros. Permaneceu na Universidade de 1977 a 1979. Depois, foi para o Centro 8 de Março, onde foi director até 1982.
Foi durante aquela fase que teve a oportunidade de ir para Portugal. Havia bolsas de estudos, e Lourenço estava integrado num grupo de cinco bacharéis. Ele foi escolhido chefe do conjunto para ir à Portugal negociar com a Gulbenkian a concessão de bolsas, em 1980. Obteve três bolsas para Portugal e duas para Inglaterra. Ele foi para Portugal.
Entretanto, quando concluiu a licenciatura (em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português/Francês) a sua mulher, que era portuguesa, recusou regressar para Moçambique. Lourenço enviou uma carta para o Reitor da UEM, explicando a sua situação e pedindo dois meses para pensar. O Reitor pensou que ele estivesse a preparar terreno para não regressar e tratou de demiti-lo. Moçambique estava a passar por um momento difícil. A década de 80 é considerada de fome no país e precisava de quadros para ajudar a tirar Moçambique daquela situação.
Após ser demitido, Lourenço recebeu um convite da Universidade Nova de Lisboa para dar aulas, que foi aceite. Depois, o então Presidente de Moçambique, Samora Machel, viajou para Lisboa, numa visita de trabalho, e Rosário aproveitou a oportunidade para falar com a Ministra da Educação, Graça Machel, para explicar o que teria acontecido.
Em 1987, fez doutoramento em Literaturas Africanas, pela Universidade de Coimbra, em Portugal. E no ano seguinte, regressa ao país e começa a dar aulas, como professor visitante na UEM, a convite do Reitor Rui Baltazar. E em 1994, acabou regressando definitivamente.
Posteriormente, o então Presidente da República, Joaquim Chissano, convidou-o para ser presidente do Fundo Bibliotecário da Língua Portuguesa (FBLP). Naquela fase, Lourenço do Rosário procurou realizar o seu sonho de criar uma instituição de ensino superior em Moçambique.
Primeiro falou com Chissano, que lhe disse que tinha todo seu apoio, mas teria de se virar porque não tinha como lhe ajudar financeiramente. Depois conversou com o então Reitor da UEM, Narciso Matos. E ao mesmo tempo que presidia o FBLP criou o Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU), que hoje chama-se Universidade A Politécnica, uma das maiores instituições privadas de ensino em Moçambique.
Lourenço do Rosário tem leccionado em várias instituições de ensino superior de renome internacional como, entre outras, a Universidade de Hamburgo, na Alemanha; Universidade de Milão, em Itália; Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil; e Universidade Nova de Lisboa. É Reitor da Universidade Politécnica e actualmente preside o Fórum Nacional do Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP).