José Moiane – Herói da República de Moçambique
A história de José Phahlane Moiane, Herói da República de Moçambique, começou a ser desenhada lá nas terras de Languene, distrito de Xai-Xai, na província de Gaza.
Gaza é aquela província moçambicana que tem produzido muitos heróis. De lá veio Eduardo Mondlane (fundador da Frente de Libertação de Moçambique); Samora Machel (fundador do Estado Moçambicano); Joaquim Chissano (segundo Presidente de Moçambique); e companhia…
Continuando… José nasceu a 28 de Novembro de 1935. Na altura, Moçambique era Portugal, era uma província portuguesa e estava sob o jugo colonial.
Ainda na transição da sua infância José tornou-se pastor de gado; e a seguir foi empregado doméstico; e depois foi exportado para as minas da África do Sul.
O Estado português havia feito um acordo com Transval (antiga província sul-africana), que permitia o recrutamento de trabalhadores para indústrias mineiras do Transval. A mão-de-obra exportada, para alimentar o capital mineiro da África do Sul, era tirada do sul de Moçambique. E dava muito dinheiro ao Estado colonial. Foi neste contexto em que muitos moçambicanos da província de Gaza foram exportados para trabalhar nas minas.
Moiane quando tomou conhecimento da existência da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento criado para pôr fim ao colonialismo, decidiu abandonar as minas, atravessou fronteiras até chegar a Dar-es-Salam, Tanzânia, a 19 de Novembro de 1963.
Já junto com outros nacionalistas, que sonhavam com um Moçambique livre, Moiane participou de formações militares. Quando chegou já tinham avançado alguns grupos para treinos militares na Argélia. Então, Moiane foi imediatamente para Bagamoyo, onde foi atribuído uma bolsa para ir fazer treinos militares na China. O grupo de Moiane era liderado por Filipe Samuel Magaia.
Depois da China, o grupo teve aprimoramento na Coreia do Norte, a guerra de guerrilha. Eles regressaram em 1964 e foram destacados para província de Niassa. Lá foram reforçar o grupo de Daniel Polela, Tazama, Malipa, Salésio e outros que já tinham iniciado a Luta Armada.
Os treinos contribuíram para que Moiane fosse indicado ao cargo de Chefe das Operações no Niassa.
Quando entrou em Niassa, o seu grupo acampou na povoação de Mandambuzi, onde estabeleceram uma base num monte conhecido por Mbembe. Daí começaram a desenvolver operações militares contra o colonialismo português.
O primeiro combate dirigido por Moiane deu-se a 31 de Março de 1965, e foi contra o acampamento de soldados portugueses numa igreja Anglicana, em Mbueka. Contudo, foi em Tete onde Moiane atingiu o estrelato na Luta de Libertação Nacional. Pelo trabalho desenvolvido em Tete, Samora, então Líder do movimento, considerou Moiane de “dorso do camelo”.
Moiane foi destacado para Frente de Tete, em 1965, para ser Chefe das Operações Militares. Quando chegou, a Luta Armada estava a avançar para a direcção de Furancungo e Cazula. José Moiane tentou avançar para a zona do Rio Canha. E a sua primeira decisão foi mudar o rumo do combate. Fê-lo reestruturando a zona em quatro sectores e pediu a cada chefe de operação para que lhe trouxesse pelo menos dois combates por mês.
Foi aquela estratégia de Moiane que levou a Frente de Tete a desenvolver o seu combate ao ponto de até 1970 atravessar o Rio Zambeze. A Frente de Tete alcançou Manica, Sofala, e Zambézia.
Refira-se que, por causa do posicionamento geoestratégico, Samora Machel dava importância à Frente de Tete, e tinha dado orientações específicas de como devia actuar.
Depois de atravessar o Rio Zambeze a Frente liderada pelo General Moiane sofreu ataques da Rodésia de Ian Smith, que estava a ajudar os portugueses. A Direcção da FRELIMO pediu apoio da ZANU, movimento de libertação da antiga Rodésia, actual Zimbabwe. Assim, a ZANU iniciou a luta de libertação do Zimbabwe, o que permitiu a luta da Frente de Tete avançar sem interferência de Ian Smith.
Enquanto combatiam na Frente de Tete, ouviram na rádio que o General Kaúlza de Arriaga, nomeado Comandante das Forças Armadas de Portugal, acreditava que iria liquidar a Frente de Libertação de Moçambique em seis meses, concentrando suas forças em Cabo Delgado, Niassa, e Tete, uma reacção que ficou conhecida como operação “Nó Górdio”.
A Frente comandada por Moiane sofreu muitos desaires com a operação “Nó Górdio”. Para responder, a Frente de Tete optou por dividir-se em pequenos grupos, tendo contado com ajuda do Comando Central que enviou armamento moderno e mais homens. Na resposta, a Frente de Tete também contou com apoio de milicianos e da população.
Assim, o trabalho da Frente de Tete contribuiu em grande medida, para a FRELIMO alcançar a vitória, que foi conquistada com a Independência, a 25 de Junho de 1975. Nessa altura, o Tenente-general José Moiane foi nomeado primeiro Governador da província de Manica e, depois, desempenhou a mesma função na província de Maputo, durante 11 anos.
O General Moiane, como homem de família, foi uma escola de vida para os seus filhos, pois teve de assumir o papel de pai e mãe. Aos filhos procurou ensinar valores éticos, morais como honestidade, humildade e amor ao próximo. Uma das frases que enfatizava para os filhos é que “a vida é uma luta, há que ter coragem suficiente para enfrentar as suas dificuldades e os desafios”.
José Moiane morreu a 19 de Fevereiro de 2015, vítima de doença, numa altura em que a família se preparava para comemorar os seus 80 anos.